As tensões entre China e Índia: disputas territoriais e rivalidade histórica, por Gabriela Chagas

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No mês de junho de 2020, China e Índia entraram em confronto na Linha de Controle Real (LAC na sigla em inglês), que fica em Ladahk, região que tem sido alvo de disputas territoriais sino-indianas há quase 60 anos.

As relações sino-indianas são marcadas por ocasionais períodos de tensão bilateral, sobretudo à respeito das disputas fronteiriças por territórios inóspitos. Atualmente existem duas áreas contestadas, são estas: Aksai Chin situada na região da Caxemira – administrada pela China e disputada por Índia e Paquistão – e Arunachal Pradesh localizada no noroeste da Índia – contestada pela China por considerar parte da região autônoma do Tibete.

As regiões disputadas são caracterizadas pela difícil navegabilidade e inospitalidade do território, o que dificulta o controle transfronteiriço. No entanto, são consideradas regiões importantes para China e Índia devido a existência de valiosos recursos naturais.

Histórico turbulento

As relações entre China e Índia iniciaram em 1950, após o rompimento das relações com a República da China (nome oficial de Taiwan), e o reconhecimento da República Popular da China pela Índia. Todavia, as relações bilaterais são destacadas por diversos momentos de hostilidade e disputas, sendo o mais notável a Guerra Sino-Indiana em 1962.

No ano de 1962, China e Índia entram em guerra pela contestação da soberania sobre o território da região do Himalaia. Ambos os Estados reivindicavam direito sobre a região de  Arunachal Pradesh, fronteira sem demarcação legal vigente até hoje. No entanto, a origem desta disputa remonta o período colonial, quando em 1914 o Reino Unido estabeleceu a linha de McMahon para delimitar o limite transfronteiriço entre China e Índia, proposta que foi rejeitada por ambos.

Desde então China e Índia entraram em conflito três vezes, em 1962, 1967 e 1987, todos os confrontos engendrados por contestação territorial. Devido a  ausência de um acordo formal sobre uma fronteira real, foi instituída a LAC (Line of Actual Control), ou Linha de Controle Real. 

A LAC foi demarcada informalmente na linha do cessar-fogo após os breves e sangrentos eventos de 1962. O aceite oficial da LAC ocorreu apenas em 1993 através de um acordo bilateral, entretanto, devido a topografia complexa da região, esta demarcação segue mal definida, abrindo brechas para possíveis futuros imbróglios.

Nesta conjuntura, China e Índia possuem dois dos maiores territórios, populações e exércitos do mundo, além de que ambos detêm armamentos nucleares, contexto que sugere resultados catastróficos na decorrência de um possível conflito de maior escala. 

Portanto, neste ínterim desde 1987 Pequim e Nova Delhi buscaram solidificar suas relações diplomáticas, visando o desenvolvimento econômico tanto bilateral quanto multilateral em âmbitos como o BRICS e a OCX (Organização para Cooperação de Xangai).

Os eventos de 2020

Ainda assim, em junho de 2020 um novo confronto na região disputada trouxe o assunto à tona. Trata-se de um confronto entre soldados chineses e indianos no vale de Galdwan, região disputada de Ladakh, em que as patrulhas chocaram-se com “pedras e paus”, deixando pelo menos 20 soldados indianos mortos. Segundo Nova Delhi, também houveram feridos do lado chinês, mas Pequim não confirma esta informação.

Tal confronto se deu desta forma, tendo em vista que China e Índia possuem acordo para que suas patrulhas locais não portem armas de fogo.

Ao longo dos anos, tanto China quanto Índia têm reforçado suas reivindicações na região através de construções de infraestrutura e controle, como por exemplo a construção indiana de estradas para melhorar a conectividade na região. 

De acordo com Nova Delhi, ainda em maio, perceberam-se movimentações na patrulha chinesa para locais que a Índia reconhece como seu território. Isto ocorre após a construção de uma nova rodovia que liga-se a uma base aérea, reativada em 2008 pelos indianos, questão na qual Pequim opõe-se fortemente. Estas ações têm sido vistas como projetos para obter vantagem tática na região criando um clima de tensão por ambos os Estados.

Ainda que, tanto China quanto Índia tenham declarado que estão focadas na recuperação econômica de seus Estados considerando os efeitos da pandemia de COVID-19, e não possuem interesse em “aumentar as tensões” na região, no dia 20 de julho de 2020, Estados Unidos e Índia realizaram conjuntamente exercícios de passagem com um grupo de ataque no Oceano Índico. 

Tal situação acende a discussão para uma possível migração do conflito terrestre para um marítimo, considerando ainda a atual situação de tensão político-econômica entre Estados Unidos e China, os exercícios militares indianos conjuntos com os EUA podem ser interpretados por Pequim como uma demonstração de força.

Foto: Reprodução

Gabriela Chagas, Mestranda no Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisadora nas linhas de pesquisa de Economia Política Internacional com ênfase nos estudos de transição hegemônica e das Grandes Potências, Geopolítica da Energia com foco na questão da transição energética, possuindo como principal objeto de estudo a República Popular da China e o Leste Asiático.

Referências

https://br.sputniknews.com/asia_oceania/2020072115851899-eua-india-realizam-exercicios-grupo-de-ataque-oceano-indico-video/

https://www.lowyinstitute.org/the-interpreter/india-china-conflict-move-himalayas-high-seas

https://renovamidia.com.br/china-nao-tomara-nem-uma-polegada-da-nossa-terra-diz-india/

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40443826

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53092498

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Escaramuca-China-india-parte-da-luta-entre-a-forca-maritima-e-a-terrestre/6/48042

https://www.cronista.com/columnistas/China-vs.-India-un-conflicto-en-el-centro-de-la-disputa-de-poder-global-20200722-0015.html

https://www.ufrgs.br/nebrics/tag/india/

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