2013: o início da fratura política, por Wagner Sousa

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O ciclo de instabilidade política porque passa o Brasil atualmente se inicia em junho de 2013. A partir de um protesto de jovens reivindicando passagens gratuitas no transporte público da cidade de São Paulo manifestações de massa irrompem por todo o país numa escala sem precedentes. Os protestos se colocam como apartidários e abrigam tanto a esquerda como a direita. O mundo não compreende muito bem como um país que vem ostentando melhoria nos índices sociais de repente mostra um povo com muitas insatisfações.

Os protestos começaram às vésperas da Copa das Confederações, evento teste para a Copa do Mundo do ano seguinte. A partir de então o próprio Mundial de futebol passa a enfrentar forte resistência e protestos, em especial nas chamadas redes sociais, mas também em manifestações de rua. No ano de 2014, um país bastante dividido e polarizado politicamente vê uma campanha eleitoral virulenta, especialmente a travada na internet. A Operação Lava Jato e suas investigações sobre conexões entre políticos e desvios de recursos da estatal petrolífera Petrobrás se iniciou neste ano eleitoral e causou danos, especialmente ao Partido dos Trabalhadores. Dilma Rousseff venceu as eleições por pequena diferença.

Um mês depois do resultado das eleições, grupos já se manifestavam e pediam o impeachment da presidente. O PSDB, partido que perdeu as eleições no segundo turno de votação, contestou o resultado no Tribunal Superior Eleitoral já no fim de 2014. Estes eventos eram o prenúncio do que estava por vir nos anos seguintes.

No início do segundo mandato, em 2015, Dilma Rousseff optou por dar uma guinada radical em sua política econômica. No primeiro mandato, uma política que combinava desenvolvimentismo com preocupação social (na forma de protecionismo a determinados setores, criação de agência de estímulo à indústria, subsídios e ampliação dos programas sociais) e ortodoxia (na forma de corte nos investimentos estatais com o intuito de reduzir a despesa pública e baixar a taxa de juros e desonerações de tributos para estímulo do investimento privado e concessões de serviços públicos) foi comandada por Guido Mantega, que dirigiu a Fazenda durante o governo Lula, período no qual teve desempenho bastante exitoso. No segundo mandato, cedendo a pressões do mercado financeiro, Dilma escolhe um alto funcionário de banco privado, Joaquim Levy, para o cargo de Ministro da Fazenda, claramente de viés ortodoxo e que buscou privilegiar a contenção da despesa pública e a correção de defasagens de preços das tarifas públicas (energia elétrica, combustíveis). Tal política resultou em corte severo dos investimentos públicos e no primeiro ano em inflação (esta também decorrente da desvalorização do real, neste período). A popularidade da presidente Dilma Rousseff despencou atingindo o patamar de 7% (no que foi superada pelo sucessor Temer, com 3% no ponto mais baixo de sua avaliação). Do cenário de pleno emprego e expansão dos gastos públicos nas áreas sociais que perdurou no primeiro mandato a população passou a conviver com desemprego, menos subsídios e inflação. A promessa de campanha de Dilma era manter a política econômica do primeiro mandato.

O não cumprimento desta promessa e os seus efeitos para a população e a massiva campanha contra o seu governo que uniu os meios de comunicação, grande parte da classe média, o empresariado do comércio e da indústria, o setor financeiro, setores da burocracia pública (Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, Tribunal de Contas), partidos políticos (da oposição e também então aliados da presidente) e interesses externos derrubaram a popularidade do governo e criaram a conjuntura propícia ao golpe perpetrado na forma de um impeachment sem base legal.                    Grandes manifestações de rua convocadas pelas redes sociais tomaram o Brasil. A classe média tradicional, que se sentiu prejudicada relativamente pela ascensão material dos mais pobres e encarecimento dos serviços prestados por estes (como de empregada doméstica, por exemplo) e perda de seu “status social diferenciado” engrossou as manifestações. A Operação Lava Jato tratava de criminalizar o PT e a figura do ex-presidente Lula e novos movimentos de direita financiados por entidades empresariais nacionais e interesses externos tomaram a frente dos protestos. A pressão deu resultado. Pouco mais de um ano depois, o impeachment se consumou. Voltaremos ao tema no próximo artigo.  

Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil

Texto originalmente publicado em 2018.

Wagner Sousa é Doutor em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Editor de América Latina.

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